A ONÇA, O TATU E A CORUJA
Versão de um conto popular
Ricardo Azevedo
O tatu estava passeando no mato quando escutou alguém chorando. Quando foi ver, encontrou a onça atolada no lamaçal. A onça gritou:
-- Tatu, me acuda! Vim beber água e me atolei. Me ajude a sair dessa lameira, que sozinha eu não dou conta!
O tatu teve medo.
-- Eu hein? – disse ele. – Não vou não, que depois você me come!
A onça fez cara espantada:
-- Que é isso, amigo tatu? Onde já se viu? Você acha que eu ia ter coragem de comer justo um amigo numa hora de tamanha necessidade?
O tatu respondeu:
-- Acho!
Foi quando os olhos da onça ficaram cheinhos de lágrima:
-- Me acuda, querido tatu, que a coisa está preta e eu já estou mais pra lá do que pra cá. Me ajude, por favor, que eu sou mãe de família e tenho sete filhinhos pra cuidar!
Com pena da onça, o tatu correu, arranjou um pedaço de cipó, amarrou e puxou a bicha para fora. Livre da lameira, a onça deu um bote e pegou o tatu.
-- Peço desculpas, caro amigo – disse ela -, mas fiquei um tempão no lamaçal e agora me deu uma fome danada!
Mas o tatu teve uma idéia. Disse à onça:
-- Primeiro vamos sair pela mata e perguntar se isso é justo ou não é justo. Se for justo, você me come. Se for injusto, você me solta. Topa ou não topa?
A onça topou.
Lá foram os dois andando pelo mato. Encontraram uma árvore e explicaram o caso. A árvore balançou seus milhares e milhares de folhas.
-- Ora, tatu – disse ela. – Isso não é nada! E eu? Logo, logo vou ser derrubada, cortada, virar lenha e morrer queimada no fogareiro!
A onça lambeu os beiços, mas o tatu disse que o certo era ouvir outra opinião.
Lá foram os dois andando pelo mato. Encontraram uma estrada de terra e explicaram o caso. A estrada suspirou levantando poeira:
-- Ora, tatu – disse ela. – Isso não é nada! E eu? Os homens passam e cospem em cima de mim, os bichos fazem cocô na minha cara, as crianças jogam papel de bala, os carros passam tão pesados que quase me arrebentam e ainda me deixam cheia de buracos!
A onça lambeu os beiços, mas o tatu disse que o certo era ouvir mais uma opinião.
-- Vai ser a última – avisou a onça, arreganhando os dentes.
Lá foram os dois andando pelo mato. Encontraram um boi e explicaram o caso. O boi soltou um mugido tristonho:
-- Ora, tatu – disse ele. – Isso não é nada! E eu? Trabalhei a vida inteira puxando carroça e agora que fiquei velho e sem forças, vou ser morto e cortado pra virar carne de churrasco!
A onça lambeu os beiços e já ia comendo o tatu quando apareceu uma coruja. A coruja viu o tatu chorando e quis saber o que estava acontecendo. A onça explicou o caso. A coruja escutou tudo direitinho e disse:
-- Acho melhor a gente ir até o lamaçal. Não estou conseguindo entender esse caso direito.
A onça e o tatu levaram a coruja até o lamaceiro. A onça explicou tudo de novo. A coruja não entendeu:
-- Como? Quer dizer que a árvore ficou cheia de buracos, virou churrasco e foi parar no meio da lama?
A onça disse que não era nada disso e explicou o caso de novo. A coruja não entendeu:
-- Como? Quer dizer que a estrada foi derrubada, foi cortada, virou lenha, caiu no chão, a onça vinha passando, tropeçou e foi parar no lamaçal?
A onça disse que não era nada disso e explicou tudo de novo. A coruja não entendeu:
-- Como? Quer dizer que a onça fez cocô na cara do boi, o boi não gostou, deu uma chifrada e a onça foi atirada no lamaceiro?
A onça perdeu a paciência:
-- Mas será o benedito? Essa coruja é mais burra do que uma porta! Não consegue entender nada direito!
Irritada e cheia de fome, pulou dentro do lamaçal e começou a explicar:
-- Presta atenção! Eu estava bem aqui, presa assim, e então...
Foi quando a coruja disse:
-- Estava aí e vai continuar aí mesmo. Vamos embora, amigo tatu. Deixa a onça se azarar.
E lá foram os dois embora, enquanto a onça berrava e gritava e miava e afundava e engasgava no meio do lamaçal.
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A CORUJA APRESENTA DOIS TIPOS DE COMPORTAMENTO.ELA PARECE PARVA E SABIA.EXPLIQUE ISSO
ResponderExcluirISSO É UMA PERGUNTA SOBRE O TEXTO
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